sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

“...o diabo sabe o que é essa vontade...”

bom, pra começo de conversa, gostaria de dizer que, como já havia me alertado um amigo, dostoievski é uma espécie russa de machado de assis. e como eu sou apaixonada pela maneira machadiana de escrever, acredito que dostoiéviski chegou pra ficar!!!
memórias do subsolo foi o segundo de três livros que li, até hoje, desse autor e foi o que mais gostei, seja pela maneira de escrever, me obrigando a ler em um único fôlego, ou pelo assunto abordado, o ser humano, que nos é apresentado de uma forma tão ... humana.
já tem algum tempo que li essas memórias e, quando vi o resultado da votação aqui no blog, comecei a pensar nesse homem doente que nos fala sobre outros homens também doentes. pra quem ainda não leu, a história começa assim: “sou um homem doente... um homem mau. um homem desagradável. creio que sofro do fígado.” eu acrescentaria: um homem sem o seu lugar no mundo, porque o mundo, o nosso mundo, não é para homens doentes.
dentre todas as coisas que me chamaram atenção nesse livro, eu escolhi pra falar aqui, a questão do homem e de suas vontades e do homem e suas fórmulas. nós vivemos em um mundo de fórmulas e muitas vezes esquecemos o que é ter “vontade independente, custe o que custar essa independência e leve aonde levar. bem, o diabo sabe o que é essa vontade... (p.39).
nós somos obrigados a viver em um mundo sensato, calculado. nossos desejos são movidos pelas vantagens que podem nos trazer. como seria abrir mão dessas vantagens, desejar pura e simplesmente por desejar, até mesmo o que pode ser desvantajoso, e parar de sonhar, de acreditar nesse mundo milimetricamente calculado e entender o homem, se entender enquanto esse homem doente, mau, desagradável?
acredito que nosso personagem atingiu esse estado de consciência e isso lhe custou muito caro. logo ele, que não gostava de trabalhar, que largou tudo e passou a viver de uma herança miserável!!! o preço que ele pagou foi não pertencer a lugar nenhum, ou talvez somente a um subsolo, onde podia gemer suas dores sem ser inoportuno/importunado.
fico me perguntando se ele escolheu ter essa consciência ou se ele não teve escolha. será que nós podemos escolher, decidir, desejar?!! e se pudéssemos, escolheríamos a consciência ou a ignorância? admitiríamos ser doentes, maus, desagradáveis?
ter a consciência de quem é o ser humano e, conseqüentemente a consciência de si mesmo, tornou nosso personagem amargo, triste, ou, usando suas próprias palavras, doente. quantas vezes já encontramos pessoas doentes pelo nosso caminho, pessoas que, assim como ele, não eram percebidas por “olhares saudáveis”?

não sei se estou pronta pra esse mundo sem fórmulas, mundo de desejos, dos meus desejos... não sei se estou pronta pra ter consciência de mim mesma, de minha doença, de minha maldade. mas sei, com toda certeza, que não estou pronta pra viver num mundo onde não existe desejo, vontade, onde tudo ocorre de forma planejada, calculada. não, esse mundo eu não quero. prefiro dividir o subsolo e gemer minhas dores.


p.s.: olha só o lindo selo que o clube ganhou da xeret@ muito obrigada!!!!!

9 comentários:

Cris disse...

Ainda não comecei a ler e fico reticente em comentar sem conhecer o livro. Mas, me baseando apenas no seu relato... é difícil virar as costas para os costumes e principalmente para as expectativas criadas - as alheias e principalmente as nossas. Fugir dessas fórmulas nos torna diferentes e não é bom ser diferente nessa sociedade - e em nenhuma outra também. Agora vou ter que ir ao livro para ver se Dostie (gostou da intimidade)muda ou não minha opinião.

katy disse...

pois é cris, eu queria ser diferente, não precisar de tantas fórmulas, mas sei que isso me tornaria [mais] diferente ainda!!!! e lendo o "dostie" [adorei a intimidade] percebi que o lugar dos diferentes não parece com o lugar que quero pra mim, mas também não quero as fórmulas!!!!! ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Cris disse...

Ser ou não ser... eis a questão !!! risos Quem foi que disse que a vida deveria ser fácil?

katy disse...

alguém que nunca viveu!!!! rsssssssss bjs

edson coelho disse...

o eu não tem fundo, é certo, mas o sol só vai se apagar daqui a oito milhões de anos. não é papel da literatura ser do contra, mau-humorada - ela o é porque muito ser humano assim é. mas eles não são mais legítimos do que o sol, a lua, uma cabaninha perto do igarapé. o ser humano também é assim. parabéns pela blog!

Anônimo disse...

olá, dei uma passada pelo seu site e o achei muito interessante. Perdão pela demora da resposta, mas
estava de férias...
Espero que não se importe, irei adicioná-lo aos meus favoritos, pois adoro ler.

Redação Boom disse...

muitoo legal o blog para dividir conhecimento , abrindo discussões sobre os assuntos

Newdelia disse...

Deixei um mimo no Xeret@ prá vc.
Bom final de semana.

http://newxereta.blogspot.com/2009/02/mais-mimos-que-beleza.html

Beijocas

- Moisés Correia - disse...

O mundo adormece na cama do céu
Enquanto permaneço acordado no teu roseiral…
Vigilante no teu galante corpo, rosa sem véu
Batem janelas inquietas, pétalas em temporal

Neste momento,
Desejo
Um bom fim-de-semana
Materializado em harmonia
Com muita alegria…
Um excelente CARNAVAL
Com muito divertimento
Desmascarando amor
Com paz,
Cheio de muita folia…

O eterno abraço…

-MANZAS-