terça-feira, 17 de março de 2009

ensaio sobre a cegueira, por katy

Em primeiro lugar, quero deixar aqui a minha admiração pelo trabalho de Fernando Meirelles que, de forma brilhante, adaptou o romance de José Saramago para o cinema. Nunca tinha visto uma adaptação tão fiel ao romance.
Gosto muito das obras do Saramago e com essa não podia ser diferente. É uma leitura forte que me fez refletir sobre os seres humanos, os verdadeiros seres humanos, não esses “forjados pela civilização”.
Muitas coisas me impressionaram nessas linhas. Primeiro foi a capacidade de adaptação. Eu sei que ela existe desde sempre, mas quando a gente vê/lê, percebe tudo de outra forma. Não são homens da caverna que estão evoluindo, se adaptando, mas são pessoas como nós, que encontram um jeito, “a vida sempre encontra um jeito”, mesmo que esse jeito seja [in]voluir.
O segundo ponto que quero comentar é essa característica do ser humano de mandar e de ser mandado. Não importa em qual condição a humanidade se encontre, podemos estar todos cegos, mas sempre existirão aqueles que de algum modo tomarão o poder, pela força ou pela palavra.
Outra questão é a da igualdade. Tirando esses que sempre encontram um jeito de mandar – que são a minoria – ficam os outros, os iguais, aqueles que seguram nos ombros dos que estão a sua frente e tateiam o chão para não tropeçarem. Mesmo com toda a minha imaginação, não consigo visualizar uma situação como a existente no livro: ser tão igual ao outro, a ponto de entendê-lo, sem cobrar explicações, sem precisar de uma única palavra, nem mesmo de um olhar, já que eles estavam cegos. Somente estar ali, sentir o meu próximo, confiar na mão que me é estendida e seguir em frente.
Foi só um ensaio, mas um dia poderemos mesmo nos encontrar cegos, se é que já não estamos... E se a cegueira branca vier, estaremos prontos para segurar o ombro do outro, engatinhar como crianças, procurando desviar dos obstáculos, ou ficaremos a espera da morte, por medo de [in]voluir?....

Um comentário:

Cris disse...

Acho que já estamos cegos, uma cegueira cinza (porque nessa poluição, nada é branco) e já estamos in-voluídos.